terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Como curtir museus?

Depois de um fim de semana de introdução, mas, muito intenso de atividades, inclusive com um Meet Up organizado em dois dias, hoje tivemos a 1ª aula da semana! Luciana Annunziata já chegou nos estimulando a mudar o layout da sala para não parecer “aula”. A missão do dia era ajudar a encontrar a pergunta pivô.  Esta questão é aquela que sempre nos norteará caso nos percamos no caminho, o que tem grandes chances de ocorrer com startups.


O exercício principal era off line e consistia na construção de um mapa de perguntas e depois selecionar dentre elas alguma que pudesse ser a pergunta pivô. “Mas apenas uma pergunta?” - alguns de nós questionamos. Sim, “para viver em viver em Beta é preciso ter um centro organizado”, foi a resposta.

Desliguei o notebook e nos lançamos aos post its e começamos a formular uma chuva de perguntas para encontrar apenas uma: qual pergunta do mundo meu projeto atende? Devo confessar a vocês que nesta noite aprendi mais do que nunca a importância de se fazer as perguntas certas e que, mais importante que dar respostas, é saber perguntar.

Guilherme e nosso mapa de perguntas

Após o exercício, recebemos visitas de outros farmers para nos ajudar lançar mais questões sobre as nossas que havíamos feito. Até então, eu e o Guilherme fizemos um esforço que deve ter gastado toda a nossa glicose consumida no dia, um parto, como é difícil fazer perguntas...

Bom, até então dos posts its que havíamos gastado, separamos a seguinte pergunta:

“Como podemos mostrar às pessoas que museu é um lugar super legal?”
Recebemos uma contribuição importantíssima do Erik sobre a possibilidade das pessoas já acharem os museus interessantes, mas, não se sentirem estimuladas a visitar. Achei a colocação super pertinente e resolvi alterar para algo que retirasse o foco do sentimento que as pessoas tem sobre museus e as levassem direto para a visitação e alteramos para: “Como podemos mobilizar as pessoas a visitarem museus?”

Agora, todos os farmers precisavam colar suas perguntas nas paredes e se posicionar em frente àquela que mais gostou. Eu gostei da questão da equipe do Reuni-on (preciso copiar para colocar aqui para vocês!). E pela primeira vez senti na pele aquilo que tanto se fala sobre a cultura de startups: quanto mais rápido você errar, melhor para você! Se quiser ler mais um pouco, leia esse aqui.

Ninguém gostou da sofrida pergunta que fizemos para o Mutz. Bleh

Bã!


No entanto os feedbacks foram super positivos e nos ajudaram a testar algumas hipóteses:
  •       A pergunta não atraiu ninguém para ter vontade de visitar um museu;
  •        Ela deveria ser mais “sexy” mais “gostosa”;
  •       Quem sabe: “Como curtir museus?”, foi a sugestão do Tiago Gaspar.
Tendo ouvido a contribuição dos colegas, pude verificar que:
  • Ainda preciso trabalhar na tarefa de, " definitivamente, espanar este nome e retirar dele a última partícula de pó que possa ter restado" conforme disse Maria Ignez Mantovani na entrevista que me cedeu;
  • Há um longo trabalho de tornar os museus mais atraentes, em especial, para o público jovem, aquele que estava ali;

O Henrique Veloso, da Token Lab, disse: “isso é muito difícil”. E ele tem razão. Atualmente existem no Brasil 3.118 museus e prevê-se a criação de mais 250, mas, cerca de 70% população nunca freqüenta museus, segundo a última pesquisa do IPEA. A fragilizada apropriação social dos museus por motivos como: falta de hábito de visitação, cultura de elitização destes espaços e pouca divulgação das atividades culturais são indícios dessa ausência nos equipamentos brasileiros.

A partir de todos estes fatores acreditamos que a internet é o ambiente ideal para se estimular, desenvolver, democratizar e ampliar significadamente o acesso a museus, exposições e espaços culturais. Esse é o nosso maior desafio, porque, quanto maior o problema, maiores são as oportunidades.

E para testar mais uma possibilidade, gostaria de perguntar aos meu amigos farmers e leitores do blog: será que modelos de calcinha e sutiã passeando pelo museu ajudaria a torná-lo mais sexy? Isso aconteceu de verdade no Musèe d' Orsay em Paris, um dos museus mais tradicionais da França e criou uma baita polêmica.


Que som tem isso? (meu dia de startupeira) De Maria, Maria...


Mas é preciso ter manha

É preciso ter graça

É preciso ter sonho sempre

Quem traz na pele essa marca

Possui a estranha mania

De ter fé na vida....










12 comentários:

  1. Acho que você pegou o espirito da coisa com esse video das meninas no museu ehehhehe

    ResponderExcluir
  2. Algumas perguntas, pra mim, são essenciais para que surja a sua pergunta chave. O que é arte? Como a pessoa que visita o museu a recebe? e como a pessoa que não visita enxerga um museu? qual a diferença entre essas duas pessoas?

    Ao meu ver, você está diante de um dilema. Mas como diz minha avó só a morte não tem solução. Sendo assim, penso da seguinte maneira: O problema não está na divulgação do museu, no seu acervo, o problema está na experiência do usuário.

    Por que os parques de diversão estão repletos de gente e os museus estão as minguas? Por conta da experiência do usuário. E como despertar interesse no público? Tornando essa experiência um momento único.

    Um exemplo do que eu estou falando é a exposição do Escher no CCBB. Fila quilométricas para a visitação (Eu confesso que desisti, a fila era enorme). E o que tinha de interessante nessa exposição que as outras não tem? A experiência do usuário. Pode parecer repetitivo, mas lidar com um público de massa requer alguns artifícios não convencionais da manifestação de arte. Um quadro é só um quadro, sem um motivo quando pregado na parede do museu, mas quando você dá um contexto pra ele as pessoas vão ver. A exposição do código da vinci no Louvre é um ótimo exemplo disso, a Monalisa deixa de ser simplesmente uma mulher retratada e passa a ter um contexto.

    Não posso afirmar que eles estão corretos com a abordagem, mas digo que a arte pela arte talvez não traga o efeito de despertar interesse, sabendo que o conceito está na cabeça do artista e a experiência de cada um com a arte é única.

    Bom, pra finalizar acho que o que falta mudar é o conceito, o formato como contamos a história. Para que as pessoas tenham curiosidade de sair de casa para ver algo que fará diferença em suas vidas. E o papel do Mutz, ao meu ver, é mudar esse formato.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Ronaldo, muito obrigada pela contribuição. Estamos chegando a perguntas que insistentemente nos levam para a questão da experiência. Vou melhorar isso. Beijos

      Excluir
  3. Olá Ana. Parabéns pelo blog e por colocar em discussão pública suas inquietações. Permita-me fazer um pequeno comentário sobre sua pergunta: "como mostrar às pessoas que um museu é um lugar superlegal?". Comecei a escrever antes de ler o comentário do Ronaldo, acima, dei uma parada e fui ler, então pego uma carona porque, quando ele fala da experiência do usuário acredito que ele tenha escrito boa parte, a melhor acho, daquilo que eu te escreveria. Mas o que me chamou a atenção na frase é o verbo "mostrar". Como mostrar ao usuário que ele poderia fazer isso e não aquilo? Quem disse que somos competentes para "mostrar" isso? Como mostrar alguma coisa a alguém se nem sabemos que ele gostaria de ver? Essa é uma postura típica de muitos divulgadores científicos e trás muito da arrogância intelectual de cientistas e divulgadores. Não estou afirmando que pessoalmente este ou aquele divulgador (você por exemplo) seja arrogante. Não é uma questão pessoal, é coletiva. Eu sou físico e demorei décadas para perceber que portava essa arrogância da classe. Os museus e polos culturais e universitários de Belo Horizonte pecam quase todos por portar essa arrogância que afasta as classes populares desses polos culturais. Então a pergunta não é "mostrar" e sim, talvez, como trazer o público, e sua cultura, para o museu, para o centro cultural, como fazer que ele se apodere dos bens culturais e sinta-se engajado como usuário, trazendo sua experiência, como diz o Ronaldo, para esse espaço público.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Paulo, você tem muita razão. E, provavelmente, sou uma dessas divulgadoras arrongantes. :/ Fui bolsista de iniciação científica da UFMG no Scientia - História da Ciência e da Técnica. Parte dessa arrogância pode vir daí e a outra parte, da formação que empreendi na área de mídias sociais. No entanto, esse exercício de compartilhamento que as redes sociais digitais permitem e oportunidades como o Startup Farm, estão me ajudando na construção desse conceito do Mutz de forma engajada, justamente como você propôs que seja a relação dos museus com as pessoas. Muito obrigada por se apropriar dessa discussão e trazer a sua experiência! Beijos

      Excluir
  4. Parabéns pela iniciativa muito interessante! Eu penso que o maior problema é o contexto no qual os bens culturais são apresentados. Concordo plenamente como Ronaldo. Eu próprio pude verificar o mesmo fenómeno em exposições aqui em Lisboa na Galeria Gulbenkian ou no CCB acompanhadas de debates, documentários na TV, etc. Pensar que isso não é importante, resulta na arrogância que o Paulo Ventura falava. A arte pela arte é uma conversa de intelectuais, muito distante das massas.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, muito obrigada por comentar! Envolver o visitante em seu contexto e conectar-se com ele nos museus e exposições é um caminho muito provável. Na verdade, suponho, que como nos processos de aprendizado, as pessoas são fisgadas por algo nos museus e exposições que se relaciona com a sua vida, sua história, suas memórias. O que você acha?

      Excluir
  5. Olá, Ana e pessoal do debate! Concordo inteiramente com o Paulo e acredito que, cada museu, além de apresentar objetos e obras de arte, por mais interessantes que sejam e por mais contextualizados como vocês sinalizaram "para promover a experiência" que sejam, precisa promover é o encontro e o diálogo entre as pessoas para que criem algum afeto, para sensibilizar. Sendo assim, sou adepta da formação de mediadores culturais (o que envolve TODOS os funcionários da instituição, dos serviços gerais ao gestor)aptos a convidar e receber bem quer quer que seja. E o que eu acredito que seja 'receber bem' neste contexto? Abrir espaço para o diálogo com leigos e especialistas, com público frequentador e marinheiros de primeira viagem, com crianças e adultos, com professores e estudantes etc. Não é fácil, não, mas é super possível...acho que estamos num bom caminho no Brasil, mas, sem dúvida, apenas começando a entender isso. Ninguém quer ir a um museu ficar ouvindo um cara que sabe tudo explicando coisas interminavelmente...pode ser qualquer tipologia de museu...é muito chato...as pessoas querem participar!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Andréia, muito obrigada por sua contribuição. Necessidade de formação, ampliação do atendimento à diversidade de públicos e engajamento das pessoas com os museus são, sem dúvidas, necessidades prioritárias das instituições e das pessoas envolvidas nesse processo. Queremos fazer dessa mudança! =)

      Excluir
  6. Olá Ana! Eu concordo que o fundamental pra tornar um museu atrativo é a experiência do usuário. Mas eu acho que esse não é um problema do Mutz. Esse é um problema dos Museus, que precisam atrair o público pra suas exposições. Você já pensou que o foco rentável do Mutz pode ser justamente criar soluções customizadas pra resolver esse problema? Avaliar o conteúdo da exposição, o público-alvo do museu, o orçamento disponível e criar soluções para atrair esse público? E essa atividade de consultoria/criação não precisa suprimir a ideia de guia colaborativo, pelo contrário, o site do Mutz pode se tornar um ponto de encontro para o compartilhamento de experiências de quem participou de cada ação. E voltando a experiência do usuário, acho que ela tem que conseguir ir além do espaço do museu, o visitante tem que conseguir levar um pouquinho dessa experiência com ele pra poder compartilhá-la. Acredito muito no poder das mídias sociais, mas acredito mais ainda no poder do bom e velho boca-a-boca. A empolgação que existe ao contar pessoalmente pra um parente ou amigo o quanto foi legal a sua experiência de visitar o museu é muito mais motivadora do que um post numa rede social. Mas não adianta você dizer que é legal porque é multimidia, ou porque é interativo, pelo simples fato de que a maioria das pessoas não compreende o real significado dessas palavras e com isso não consegue imaginar o que você está descrevendo. Por isso, ter como mostrar um pouco dessa experiência pode fazer toda a diferença. Vou tentar ser mais clara usando como exemplo algumas instalações do MMM:
    -aquele corredor onde estão expostas as gemas e que algumas tem uma gravação de aúdio que começa a tocar quando você abre a porta é o tipo de coisa que você diz de imediato: ó, que legal! Mas depois de 30 segundos parado ali ouvindo uma voz desconhecida falando de um assunto que você não domina, fica chato, você começa a ter a sensação de estar perdendo tempo parado e passa direto por quase todas as outras portas. Agora imagina se naquele corredor tivesse um computador com um sintetizador de voz que permitisse ao visitante escolher uma pedra, ler um pequeno texto padrão pro programa reconhecer a voz dele e dentro de alguns minutos ele receber o arquivo de áudio com o texto referente a pedra que ele escolheu, só que com a voz dele? Imagina pra quantas pessoas ele iria mostrar isso? Quantas pessoas teriam acesso a essa informação que até então estava presa no museu? Quantas pessoas iriam lá só pra ter um arquivo desses também? E eu realmente acho que as pessoas prestariam atenção no texto só por estar em uma voz conhecida. Já reparou que naquela sala que tem uma narração da Fernanda Takai a gente presta mais atenção no texto só por reconhecer a voz da Fernanda?
    -a sala onde estão o vil metal, o jogo da tabela periódica e outros. No final de cada ciclo de projeção podia ter um QRCode por exemplo, que o visitante poderia usar como se fosse um check-in e ao acumular um determinado número de check-ins, ele receberia um link pra baixar um joguinho de celular relacionado com o conteúdo de uma dessas instalações.
    -ou ainda algo que também pode ser aplicado nos museus que ainda não são multimidia, por exemplo, a maioria dos museus tem programas de visitas orientadas para escolas. Mas e se essas visitas tivessem o formato de treinamento para guias-mirins? E ao sair de lá, o aluno recebesse uma espécie de cartão fidelidade, que daria direito a ele voltar ao museu de graça, desde que sempre estivesse acompanhado de um parente ou amigo. Ao chegar, o aluno seria recebido por um guia, que lhe identificaria como guia-mirim, e o aluno assumiria a orientação de seu convidado com o guia observando de longe pra ajudar se fosse preciso. Imagina o orgulho de uma mãe vendo o filho adolescente explicar um monte de coisas que ela não conhecia. Imagina ela contando isso pra família toda. Imagina a parentada toda querendo ir no museu pra assistir o prodígio da família.
    Enfim, acho que pra essas experiências acontecerem e serem compartilhadas é preciso que exista alguém para criá-las.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ju, ainda bem que te conheço e já começamos a trabalhar juntas. Só isso!

      Excluir